O ano de 2022 é marcado pela reestruturação da equipe gestora da EternamenteSou. Estreando na posição recém criada de vice-presidente está Dora Cudignola, uma educadora e ativista de 69 anos. Ela, que sempre foi uma frequentadora assídua das atividades da ONG, assume agora o protagonismo na gestão da organização ao lado de Luis Baron, que atualmente ocupa o cargo de presidente da instituição.
EternamenteSou – No mês de fevereiro você foi empossada como primeira vice-presidente da EternamenteSou. Você participa das atividades da ONG já a bastante tempo. Qual é a importância dessa transição: de assistida à colaboradora? Essa vivência na ESou influenciará sua gestão?
Dora Cudignola – Participo da EternamenteSou desde o final do ano de 2018. Foram muitos encontros felizes e divertidos. Esta transição está sendo muito importante para mim. Acontecimentos recentes, que afetaram a todos nós, mostraram que a participação e o cuidado que cada um precisa ter com esta organização é enorme. Para mim, participar desta gestão é uma oportunidade para aprender, conhecer e contribuir ainda mais, e sempre com a intenção de tornar a vida de pessoas idosas LGBTQIA+, como eu, ainda melhor.
ESou – Mulher, lésbica, ativista, idosa, com uma vida sexual ativa e saudável. Essas características quase nunca são colocadas lado a lado, porém abrem espaço para muitos diálogos. São características que te definem?
DC – Exatamente! Sou idosa, e tenho uma vida sexual ativa. Podemos e precisamos sim dialogar mais sobre nossas vidas e compartilhar nossos momentos de amor. Essas características definem muito bem a mim. Sou muito bem resolvida com tudo isso e estou sempre disposta a ajudar outras pessoas a se sentirem assim também.
ESou – Quando conversamos sobre memórias relacionadas ao carnaval [ver Carnaval da Memória, aqui no Blog], você comentou brevemente sobre sua experiência como educadora. De que forma esse histórico de trabalho na área da educação contribuirá para sua atuação na EternamenteSou?
DC – Tenho um grande sonho. E gostaria muito de concretizá-lo dentro da EternamenteSou. Quero colaborar para ampliar a alfabetização de adultos e idosos LGBTQIA+. Esse é, sem dúvida, um dos primeiros itens da minha lista de desejos. Outro tema que acredito que podemos pensar justamente é sobre como nós fomos educados na família, na escola e na religião. Pensar em como podemos colaborar para uma mudança de pensamento das pessoas sobre nós, idosos e LGBTQIA+. Penso que uma contribuição interessante seria promovermos palestras e rodas de conversa sobre esse assunto. Como diria Paulo Freire, “…ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção”*.
*[FREIRE, P. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA – saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2003. P. 47].
ESou – Na sua sensibilidade, quais são os temas que precisamos refletir e debater no Brasil de 2022?
DC – Não podemos esquecer que estamos em um ano de eleições. Precisamos falar mais sobre políticas públicas, e menos de partidos políticos. Procurar aqueles que promovem reflexões sobre o envelhecimento e a população LGBTQIA+. Também penso ser muito importante termos mais informações sobre doenças que atingem principalmente os idosos, como: diabetes, mal de Parkinson, osteoporose, depressão, entre tantas outras. Além disso, é importante colocar nossos corpos para movimentar, não é!? Precisamos conversar mais sobre atividade física e sua importância para pessoas em idade avançada.
ESou – Passamos por anos difíceis e de distanciamento social. As tecnologias digitais contribuíram para que pudéssemos estar juntos, ainda que geograficamente distantes. E muitas vezes existe uma associação da tecnologia como barreira para as relações entre idosos. A EternamenteSou, com suas muitas horas de encontros virtuais, está ai para provar o contrário. Quais foram os aprendizados que você teve nessa relação entre tecnologias, terceira idade e relações sociais?
DC – Foram maravilhosas as nossas tardes e noites conectados através da tecnologia. Como as lives nos ajudaram a esquecer um pouco dessa pandemia, não é mesmo!? Estar conectado foi um alento, uma forma de conhecer novas pessoas e ter mais conhecimentos.
ESou – Tivemos na história recente do país, no Executivo, uma pessoa que se percebeu como sendo um “vice decorativo”. Quais são os adjetivos que definem o protagonismo que você passa a ter como vice-presidente da EternamenteSou?
DC – Eu quero trabalhar! Estar sempre ativa e conhecer mais a parte burocrática, necessária para que toda essa magia aconteça. E espero que todos tenham paciência com a minha pessoa. É claro, não esquecendo que sou uma idosa ATREVIDA. (aos risos)
ESou – Você gostaria de deixar alguma mensagem para aqueles que querem participar das atividades da ESou?
DC – NÃO PODEMOS ESQUECER: NUNCA SE ESTÁ IDOSO OU IDOSA DEMAIS PARA APRENDER! VAMOS ESTAR SEMPRE JUNTOS, EM ATIVIDADES QUE NOS ESTIMULEM TANTO NAS QUESTÕES FISÍCAS QUANTO MENTAIS.