A (in)esperada solidão de idosos LGBTQIAP+

Ela não pede licença para chegar e não questiona a origem, gênero ou idade da pessoa que escolhe afligir. Se estabelece na ausência ou na presença, não tem causa definida e os fatores determinantes podem variar entre questões sociais, circunstâncias específicas que modificam o cotidiano, intensos abalos emocionais como traumas e lutos ou até mesmo questões relacionadas à saúde. Essa é a solidão, que segundo a psicologia, pode ser explicada como uma sensação de desconexão e isolamento, que ocasiona sentimentos angustiantes pela falta de afeto e interação com as pessoas e provoca a torturante sensação de estar só.

Ainda que a ciência ofereça inúmeras explicações, se sentir solitário pode ser muito mais complexo do que aparenta, dado que, independentemente das companhias, a falta de pertencimento e aproximação psicológica podem ser experienciadas de maneira profunda. E por mais que a solidão possa ocorrer em qualquer fase da vida, um grupo específico e por muitas vezes silenciado, costuma atravessar e conviver com essa dor de maneira velada, duradoura e normalizada.

Historicamente, a solidão é associada à terceira idade por aspectos que envolvem o abandono, envelhecimento e condições de saúde, mas além das fronteiras geracionais, a comunidade LGBTQIAP+ também é amplamente afetada por esse sofrimento. O isolamento entre as pessoas que não fazem parte dos padrões heteronormativos é resultado do preconceito – muitas vezes, escancarado -, da falta de apoio familiar e de toda uma estrutura social induzida a excluir e condenar esses indivíduos. Ao refletir sobre os impactos emocionais da comunidade a longo prazo, a linha de chegada apresenta idosos LGBTQIAP+ que não são vistos e nem ouvidos, e que conviveram com a sensação de isolamento ao longo de toda a vida.


(Foto: iStock)

Segundo estudo do Williams Institute, ligado à Universidade da Califórnia, 60% de idosos homossexuais se ressentem da falta de companhia e 50% se sentem isolados, e a vulnerabilidade desse grupo alerta para o risco de quadros de depressão, falta de oportunidades no mercado de trabalho e insegurança. Para os idosos transexuais o isolamento pode ser ainda maior e envelhecer já simboliza uma vitória, tendo em vista que, de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais, a expectativa de vida das pessoas trans é de 35 anos no Brasil.

A credibilização das habilidades e capacidades cognitivas da terceira idade é fundamental, até porque, vale destacar que a solitude é uma escolha, e diferenciar essas condições é primordial para não reprimir as liberdades individuais dos idosos. Solitude é escolher estar sozinho e se sentir realizado com essa decisão, é a capacidade de aproveitar a própria companhia sem sentir angústia ou desconforto. Tal sentimento desenvolve a inteligência emocional e contribui com a autoconfiança. Alcançar a terceira idade com a satisfação e plenitude dessa conquista é envelhecer em paz e feliz, e a compreensão de que a solitude é uma opção e a solidão não, alerta para uma responsabilidade social importante: a saúde mental dos idosos LGBTQIAP+.

A preocupação com essa população precisa ultrapassar o movimento para que as pessoas sejam – ainda que pela primeira vez – cuidadas, ouvidas e incentivadas. A solidão não é uma escolha, mas o contato periódico, o apoio na prática de atividades físicas, a manutenção da vida social, o estímulo da memória e o tempo de qualidade podem ser. Acolher a comunidade LGBTQIAP+ idosa é fornecer conforto na fase mais frágil da vida e ser retribuído com um sorriso e um carinho incondicional de quem está envelhecendo com dignidade e qualidade de vida.

Escrito por: Amanda Mendes Anjos

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