Etarismo e Diversidade: O Desafio da Comunidade LGBTQIAPN+ 50+ no Mercado de Trabalho

Agir intencionalmente é diferente de somente falar sobre diversidade. Essa pauta sob a ótica do mercado de trabalho é urgente — mas não podemos esquecer que ela é multifacetada. Na grande maioria das empresas a ênfase de trabalho de times diversos é sobre os temas identitários: gênero, raça/etnia, pessoas com deficiência, comunidade LGBTQIAPN+ e, aos poucos, as organizações estão iniciando um olhar sobre Gerações e inclusão de pessoas 50+. No entanto as práticas tendem a ser isoladas e sem interseccionalidade, ou seja, cruzamento dos perfis dos grupos sub representados.

Discutir sobre envelhecimento é um tabu no Brasil e esse tabu aumenta se incluirmos, por exemplo, o recorte das velhices LGBTQIAPN+. Essa combinação pode resultar em camadas adicionais de exclusão e preconceito.

O etarismo (preconceito com base na idade) ainda é um obstáculo silencioso, mas persistente, no mundo corporativo. Dados do mercado mostram que profissionais mais velhos, mesmo com alta qualificação, enfrentam mais dificuldade para serem contratados ou promovidos. Segundo estudo da Maturi com EY de 2022 e 2023 revelam que 80% das empresas são etaristas. Quando o candidato ou a candidata também é uma pessoa LGBTQIAPN+, essa equação se torna ainda mais desigual, pois o preconceito pode se multiplicar.

Se os ambientes corporativos não são inclusivos, um movimento natural é seguir para o empreendedorismo. Uma pesquisa recente pelo Sebrae mostrou que de 55% da comunidade LGBTQIAPN+ empreende ou tem um potencial empreendedor e vê na ideia de ter o próprio negócio não apenas um instrumento para a conquista da autonomia financeira, mas um caminho também de emancipação, auto afirmação e resistência. São 3,7 milhões de pessoas LGBT+ que já lideram o próprio negócio no país. Isso representa 24% dos 15 milhões de pessoas brasileiras com 16 anos ou mais e que se identificam como integrantes desse público. Outros 11% estão envolvidos na criação de uma empresa e 20% têm intenção de abrir um negócio nos próximos três anos.

 


(Foto: iStock)

 

O conceito de interseccionalidade, cunhado por Kimberlé Crenshaw, ajuda a entender como diferentes formas de discriminação se sobrepõem. Para uma pessoa LGBTQIAPN+ 50+, não se trata apenas de idade ou orientação sexual — mas da experiência combinada de ambas as opressões. Muitas vezes, histórias de exclusão começam antes mesmo da entrevista de emprego: currículos são filtrados pelo ano de nascimento, enquanto a expressão de gênero ou o histórico profissional em organizações LGBTQIAPN+ pode gerar vieses inconscientes (ou conscientes) de quem seleciona.

Felizmente, há movimentos e organizações que atuam para mudar essa realidade. Diversas grandes organizações têm fortalecido suas políticas de diversidade de forma estratégica e genuína. Uma boa referência são empresas certificadas Age Friendly (www.agefriendly.com.br). O foco desse selo é reconhecer empresas que sejam inclusivas para pessoas 50+ mas todas as organizações certificadas possuem ações também estruturadas para inclusão da comunidade LGBTQIAPN+

A Maturi tem provocado o mercado sobre essa interseccionalidade mas o tema e as práticas ainda são embrionárias. Combater o etarismo e a LGBTQIAPN+fobia de forma conjunta exige ação das empresas, políticas públicas e engajamento da sociedade civil. Não basta contratar mais pessoas LGBTQIAPN+ ou mais pessoas 50+ — é preciso criar ambientes seguros, respeitosos e acolhedores, onde cada história e trajetória seja reconhecida como valiosa.

A inclusão verdadeira só acontece quando enxergamos a pluralidade de identidades que cada pessoa carrega.

 

Escrito por: Andrea Tenuta

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