"Se você puder não ter, não tenha". Conheça o depoimento de Luís Otavio Baron, que vive com HIV há 34 anos.
Meu nome é Luis Otavio Baron, tenho 60 anos, sou comerciante de artes visuais e vivo na cidade de São Paulo. Descobri ser portador de HIV em 1987 porque meu namorado, na época, fez um exame admissional e a empresa realizou o teste de HIV sem a autorização dele. Foi um momento destrutivo para mim. Ele faleceu em 6 meses após o diagnóstico de AIDS, pesando 47 quilos e com muito sofrimento.
Depois disso fiquei 3 anos sem trabalhar, sentia muita angústia. Durante essa fase, fui para os Estados Unidos e estudei sobre tratamentos alternativos e AZT, que na época começou a ser utilizado e era a única medicação para AIDS, mas além dos terríveis efeitos colaterais, levava a uma fase terminal com muito mais complicações. Naquele momento, entendi que não utilizaria essa medicação e fui atrás de outras possibilidades.
Durante essas buscas conheci o médico que me atende há 29 anos. Nos primeiros 6 anos ele me acompanhou fazendo supervisão clínica e sem uso de medicamentos. Após esse período, ele me apresentou um novo tratamento medicamentoso, era uma combinação de várias medicações e costumavam provocar diversos efeitos colaterais. Após 1 ano, aceitei fazer uso dessa medicação. Era tomar ou morrer. Sempre encarei os tratamentos como forma de prevenção. No meu caso, não tive os efeitos que muitos pacientes apresentavam.
Após dois anos fazendo esse tratamento, minha saúde imunológica voltou ao normal. Mudei hábitos alimentares, intensifiquei a prática de exercícios físicos e creio que comecei a melhor fase da minha vida.
À partir dos anos 2000 digo que minha vida entrou no eixo. Em 2003, em uma conversa com o meu médico, disse a ele que gostaria de adotar uma criança, mas, para isso, era importante me certificar se tinha condições clínicas, emocionais e físicas. Sempre tive muita vontade de ser pai. A resposta dele foi muito positiva. Ele me disse que estava bem de saúde como nunca estive. Em 2005, meu filho chegou com dois dias de vida e hoje é um adolescente de 15 anos que é a alegria da minha vida, meu orgulho!
Hoje estou com 60 anos, faço o mesmo tratamento há 10 anos, tomo dois comprimidos por dia, sou indetectável e não vou morrer de HIV. Trabalho, tenho uma vida ativa e apresento problemas que um homem na minha idade costuma ter com o agravante que, faço uso de medicamentos ao longo de 23 anos, que acabaram afetando os índices de colesterol e pressão arterial, por exemplo. Hoje, confesso estar mais relaxado.
Ao longo da minha vida sofri preconceitos por parte de ex-namorados e dos meus pares. Nunca escondi minha sorologia. Essas pessoas me viam como um vírus. Eu entendo a sorofobia nos anos 80 e 90 e é triste que ela continue existindo. Essa é uma questão muito séria e precisa ser combatida. O que eu posso dizer é que viver com HIV hoje é mais tranquilo do que já foi um dia, mas não é necessário que a pessoa seja contaminada. Hoje existem diversos métodos de prevenção e o HIV pode e deve ser evitado. Se você puder não ter, não tenha! Cuide do seu corpo com cuidado.
Profissional de Marketing e Comunicação, com extensa experiência em geração de demanda e aceleração dos negócios. Voluntário em projetos relacionados à Diversidade e Inclusão e causas LGBT+.